Outra Dose
- Tome outra dose.
E ele tomou, e o líquido desceu amargo pela garganta.
- Outra.
Bebeu novamente, a contragosto.
- O que foi? Não era isso que você queria?
E ele respondeu que era, era sim. Era o que ele queria. Antes. E no começo, aquilo estava lhe fazendo bem. Mas não agora. Agora estava difícil beber.
- Vamos, engula tudo. É bom pra você, te fará bem.
E ele bebia, cada vez com mais dificuldade. E parecia que não estava lhe fazendo bem. Aquilo lhe dava ânsias, revirava seu estômago! Não lhe dava mais aquela paz, aquela sensação boa do começo. E ficou pensando se aquilo tinha sido realmente bom, ou ele estava só mentindo pra si mesmo, tentando se convencer de que deveria ser bom.
- BEBA!
Mais um gole forçado. E ele continuava bebendo, dizendo a si mesmo que um dia aquilo lhe faria bem. Mas estava difícil agüentar. Ele queria levantar, sair daquela mesa, dizer “CHEGA, cansei dessa bebida maldita. Ele não me fará bem e só agora percebo isso”. Mas tinha medo. E se um dia aquilo fizesse efeito? (BEBA!) E aquela máscara em seu rosto também lhe fazia bem. Trazia uma proteção muito grande. Ele sabia que era falsa, que não correspondia a ele, mas por trás dela se sentia seguro. Mantinha seus verdadeiros sentimentos protegidos, enquanto ele tentava afogá-los com aquela bebida de gosto acre.
- Vamos, mais um pouco...
E ele engolia, sem forças para se levantar e dizer chega. Segurava-se à idéia de que se ele fosse forte, e ficasse ali, tudo se resolveria. Um dia. E bebia mais um pouco. Mas se sentia cada vez pior. Mas bebia mais um pouco. E o mundo passava lá fora. Ele sabia que tinha gente esperando por ele lá fora, sabia que um dia precisava sair daquela letargia. Mas tinha medo e odiava admitir que tinha medo. Já não era mais tão fácil ficar ali sentado. Mas sentia que se levantasse, perderia o jogo. E odiava perder. Odiava se sentir fraco. Odiava ter que buscar forças em outro lugar. (Mais um gole!). Mas antes estava mais fácil se sentar ali. Por que é que estava ficando tão difícil? Por que é que o maldito “remédio” já não fazia mais efeito (se é que algum dia realmente tinha feito...).
Aquela situação tinha que se resolver. De uma forma ou de outra. Mas não hoje. Não agora. Agora ele só podia beber. E esperar pelo melhor...
2 Comentários:
Bem... Lágrimas escorrem pelo meu rosto agora.
Eu entendo o que você escreveu, como bem sabe.
Tudo o que eu queria era impedir que outra dose fosse tomada e dizer que não era mais necessária e talvez nunca tenha sido.
Eu queria poder dizer que não é tão assustador se mostrar e ser quem você é...
1:27 AM
Ah..você sabe que eu gostaria que Ele parasse com isso,não é?
Tudo bobagem,não leva a nada.
Eu sei o que você quis dizer e sei o que você,na verdade,gostaria de dizer...
Enfim,adorei o texto.
1:46 AM
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